quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Volupia



No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
-Meu corpo!
Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca

E....

Quero sair dirigindo por ai,
sem hora para voltar,
sem prestar atenção no tempo,
no que chamam de solidão
e nos pensamentos amedrontadores
ligados ao futuro...
Quero chegar à estrada que me leva
prá mais perto do mar,
ir olhando "olhos de gato "
no asfalto,perceber os faróis furando a neblina,
observar um cão que passa correndo,
olhar as placas que indicam que estou
mais e mais perto da areia branca,
morna e macia onde andarei de pés descalços,
cabelos e vestes ao vento ...
Quero chegar antes que amanheça,
ouvir o som das ondas,
sentir o cheiro da maresia,
ver as últimas estrelas
que flertam com o mar...
Verei o céu saindo do negror profundo
para um cinza decrescente,clareando,
clareando e se misturando ao azul
que começará a se impor...
Sentirei a garoa fresca e fina
que descerá da alvorada
para os meus cabelos,ombros e braços...
Minhas vestes ficarão úmidas
e eu sentirei com prazer
os arrepiozinhos de frio...
Ao longe perceberei uma porta
e uma fumacinha de café:
para lá eu irei,
sentirei o cheiro do líquido fresco
que me aquecerá
e me trará o prazer
que me darei com o primeiro cigarro
do Novo Dia ...
Sairei caminhando para a praia- outra vez
e lá me deitarei,exposta ao sol quentinho
e carinhoso como aquele homem
que jamais conheci...

procura-se

Ando a procura de um homem capaz de ser amigo declarado da vida. Que não guarde pergunta sobre o futuro ou o passado, que ame o ato de amar, simplesmente pelo ato de amar;
Ando a procura de um homem com coragem para ter uma mulher que gosta de vestir preto, meia liga, sapato vermelho, batom carmim e decote pronunciado e dela sentir orgulho; E, como homem, defenda todas as suas fantasias, sem explicações, apenas com desejos;
Ando a procura de um homem que comigo prepare um jantar com toalha azul, palmito, aspargo, cogumelo, penumbra, silêncio, tangos, boleros e solidão. Que juntos nos embriaguemos e juntos nos esqueçamos do dia seguinte;
Ando a procura de um homem capaz de todas as surpresas: chamar para beber numa terça-feira de muito trabalho; que invente luas cheias em visitas raras; que seja ousado e arrisque todos os seus sentimentos; que sorria e principalmente tenha a capacidade de adivinhar tudo de ruim;
Ando a procura de um homem que não prometa fidelidade, mas momentos fiéis; que tenha esperança sem religiosidade; que libere seu animal e abandone suas conquistas intelectuais; que não me chateie com política, que seja macho sem medo de ser sensível;
Ando a procura de um homem que me surpreenda em todos os momentos: na casa, na praia, no quarto e na vida.
Que agrida quando sentir vontade. Que amanse quando sentir-se gato;
Ando a procura de um homem que me acompanhe quando olho o mar. Que escute e cale todas as minhas angustia. Que perante todas as dúvidas existenciais seja capaz de oferecer certezas. Que beba vagarosamente. Que leia Fernando Pessoa sem recitar.
Ando a procura de um homem que me deixe ruborizada ante uma investida inevitável. Que não diga não perante seu próprio desejo. Que me deixe entregar-me de modo calmo como o rio ao mar.
om quem eu possa soltar todos os gritos de prazer e toda a agressividade dos felinos. Que não cobre de mim mais do que posso dar. Que mate o tempo e estrague as horas e faça da vida "uma aventura errante.
Ando a procura de um homem que faça convites para jantar. Me pague uisque. Me puxe a cadeira.
Quem sabe se este homem não é você?

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O que não é Amor...


Já falou-se tanto em amor, amizade e paixão...
Que tal falarmos do que não é amor?
Se você precisa de alguém para ser feliz, isso não é amorÉ CARÊNCIA.
Se você tem ciúme, insegurança e faz qualquer coisa para conservar alguém ao seu lado, mesmo sabendo que não é amado, e ainda diz que confia nessa pessoa, mas não nos outros, que lhe parecem todos rivais, isso não é amor É FALTA DE AMOR PRÓPRIO.
Se você acredita que sua vida fica vazia sem essa pessoa; não consegue se imaginar sozinho e mantém um relacionamento que já acabou só porque não tem vida própria - existe em função do outro - isso não é amor É DEPENDÊNCIA.
Se você acha que o ser amado lhe pertence; sente-se dono(a) e senhor(a) de sua vida e de seu corpo; não lhe dá o direito de se expressar, de ter escolhas, só para afirmar seu domínio, isso não é amor É EGOÍSMO.
Se você não sente desejo; não se realiza sexualmente; prefere nem ter relações sexuais com essa pessoa, porém sente algum prazer em estar ao lado dela, isso não é amor É AMIZADE.
Se vocês discutem por qualquer motivo; morrem de ciúmes um do outro e brigam por qualquer coisa; nem sempre fazem os mesmos planos; discordam em diversas situações; não gostam de fazer as mesmas coisas ou ir aos mesmos lugares, mas sexualmente combinam perfeitamente, isso não é amor É DESEJO.
Se seu coração palpita mais forte; o suor torna-se intenso; sua temperatura sobe e desce vertiginosamente, apenas em pensar na outra pessoa, isso não é amor É PAIXÃO.
Agora, sabendo o que não é o amor, fica mais fácil analisar, verificar o que esta acontecendo e procurar resolver a situação. Mesmo que a situação se confunda às vezes para você, o correto é que avalie a "PRESENÇA" e a "AUSÊNCIA" de seu par na sua vida e diante do resultado de seus sentimentos irá perceber se algumas das situações acima são temporárias ou caracterizam definitivamente seu tipo de relacionamento.
Porque a "convivência" faz com que o tempo transforme o que é AMOR em ETERNIDADE.

Amor e loucura


Contam que uma vez se reuniram todos os sentimentos e qualidades dos homens em um lugar da terra. Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, lhes propôs:

- Vamos brincar de esconde-esconde?

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE sem poder conter-se perguntou:

- Esconde-esconde? Como é isso?

- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu lugar para continuar o jogo.

O ENTUSIASMO dançou seguido pela EUFORIA.

A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou pôr convencer a DÚVIDA e até mesmo a APATIA, que nunca se interessavam por nada.

Mas nem todos quiseram participar. A VERDADE preferiu não esconder-se.

- Para que, se no final todos me encontram?

A SOBERBA opinou que era um jogo muito tonto (no fundo o que a incomodava era que a ideia não tivesse sido dela).

A COVARDIA preferiu não arriscar-se.

- Um, dois, três, quatro...

- começou a contar a LOUCURA.

A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que como sempre caiu atrás da primeira pedra do caminho.

A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO, que com seu próprio esforço tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.

A GENEROSIDADE quase não consegue esconder-se, pois cada local que encontrava, lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos.

Se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA. Se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ. Se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA.

Se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE.

E assim acabou escondendo-se em um raio de sol. O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele.

A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris).

E a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vulcões.O ESQUECIMENTO, não recordo-me onde escondeu-se, mas isso não é o mais importante.

Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o AMOR ainda não havia encontrado um local para esconder-se, pois todos já estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente, decidiu esconder-se entre suas flores.

A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre zoologia.

Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Em um descuido, a LOUCURA encontrou a INVEJA e claro, pôde deduzir onde estava o TRIUNFO.

O EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo: ele sozinho saiu disparado de seu esconderijo, que na verdade era um ninho de vespas.

De tanto caminhar, a LOUCURA sentiu sede e ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA.

A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir de que lado esconder-se. E assim foi encontrando a todos.

O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO, que já havia esquecido que estava brincando de esconde-esconde. Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local.

A LOUCURA procurou atrás de cada árvore, em baixo de cada rocha do planeta e em cima das montanhas. Quando estava a ponto de dar-se pôr vencida, encontrou um roseiral.

Pegou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando, no mesmo instante, escutou-se um doloroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos.

A LOUCURA não sabia o que fazer para desculpar-se. Chorou, rezou, implorou, pediu perdão e até prometeu ser seu guia.

Desde então, desde que pela primeira vez se brincou de esconde-esconde na terra, o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

jantar na cama

Corpo morno servido em lençóis de linho...Suores misturados em leite condensadoUma noite inteira para te devorar...
(AtsoC ErdnaxelA)

domingo, 14 de setembro de 2008


"Os ventos que as vezes tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que aprendemos a amar. Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim, aprender a amar oque nos foi dado. Pois tudo aquilo que é realmente nosso, nunca se vai pra sempre."

(Bob Marley)