domingo, 18 de novembro de 2007

Teu riso


Tira-me o pão, se quiseres,

tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,a lança que desfolhas,

a água que de súbito brota da tua alegria,

a repentina onda de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso

com os olhos cansados às vezes por ver

que a terra não muda,mas ao entrar teu riso

sobe ao céu a procurar-me

e abre-me todas as portas da vida.

Meu amor, nos momentos mais escuros

soltao teu riso e se de súbito vires que o meu sangue

mancha as pedras da rua,ri,

porque o teu riso será para as minhas mãos

como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,

teu riso deve erguer sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,quero teu riso como

a flor que esperava,

a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,do dia, da lua,

ri-te das ruas tortas da ilha,

ri-te desta GROSSEIRA MOÇA que te ama,

mas quando abro os olhos e os fecho,

quando meus passos vão,

quando voltam meus passos,

nega-me o pão, o ar,a luz,

a primavera,mas nunca o teu riso,

porque então morreria.

Pablo Neruda

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