terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O convite a viagem



Tu, doce ser...

Pensa na manhã

Em que iremos,

numa viagem,

Amar a valer,

Amar e morrer

No país que é a tua imagem!

Os sóis orvalhados

Desses céus nublados

Para mim guardam o encanto

Misterioso e cruel

Desse olhar infiel

Brilhando através do pranto.

Lá, tudo é paz e rigor,

Luxo, beleza e langor.

Os móveis polidos,

Pelos tempos idos,

Decorariam o ambiente;

As mais raras flores

Misturando odores

A um âmbar fluido e envolvente,

Tetos inauditos,Cristais infinitos,

Toda uma pompa oriental,

Tudo aí à alma

Falaria em calma

Seu doce idioma natal.

Lá, tudo é paz e rigor,

Luxo, beleza e langor.

Vê sobre os canais

Dormir junto aos cais

Barcos de humor vagabundo;

É para atender

Teu menor prazer

Que eles vêm do fim do mundo.

— Os sangüíneos poentes

Banham as vertentes,

Os canis, toda a cidade,

E em seu ouro os tece;

O mundo adormece

Na tépida luz que o invade.

Lá, tudo é paz e rigor,Luxo, beleza e langor.

Charles Baudelaire

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